quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Sobre o Intocável






Achei incrível a forma como um assunto delicado é tratado com um humor cuidadoso e leve. Certamente, um dos melhores filmes que já vi – recomendo a todos.
Mas, além disso, um ponto especial do filme me chamou a atenção.
Há um momento na história de Philippe – um dos protagonistas, que é tetraplégico – em que um de seus fiéis funcionários diz que o novo enfermeiro contratado por ele não é bom o suficiente, o que preocupava a todos. Eles achavam que o moço não tinha compaixão para ser um bom cuidador. Neste momento, Philippe diz: “Era exatamente o que eu queria”. Claro. E ele tem toda razão. Não é nada saudável alguém querer isso. Mas, por que não?




Dó, pena, piedade. Estas são palavras da mesma família da compaixão. Quando alguém tem estes sentimentos por outra pessoa, significa não só que a está tratando com inferioridade, mas que está tirando sua autonomia para chegar ao alcance dos outros, que ilusoriamente são melhores. Essas palavras não tocam ninguém. Pelo contrário, só afastam. Ao dizer: “Oh, tadinho!”, toda a capacidade de ser “um igual” ou “normal” é arrancada da pessoa, como se estivessem dizendo que ela não será capaz de sair de tal situação quando, na verdade, tudo o que se quer é que sua posição prejudicada ou desfavorável seja reconhecida sim, mas acima de tudo compreendida, e que o foco esteja nos recursos que se tem para sair disso e pensar em todas as formas que se possa, de fato, ajudar pra isso acontecer, já que sentir pena não leva a lugar algum. Desta maneira, uma pessoa como Philippe ou mesmo alguém que se vê simplesmente aborrecido, encontraria uma maneira saudável de lidar com suas mágoas.
               Digo saudável, pois existem muitas pessoas que tem certa atração por essa tal posição e a todo o momento se colocam como vítimas dos acontecimentos da vida, como coitadas, o que só as fazem ficar cada vez mais fracas. Isso sim é enfermidade.

              


Assista ao trailer aqui. 

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